segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A cada dia ter um diferente e novo sol

"Tantas pessoas vivem infelizes e ainda decidem não tomar iniciativa para mudar sua situação porque estão condicionados a uma vida de segurança, conformidade, e conservadorismo, tudo o que parece dar paz de espírito, mas a realidade é que nada é mais perigoso para o espírito aventureiro dentro de nós, que um futuro seguro. O núcleo básico do espírito do homem é sua paixão por aventura. A alegria da vida vem dos encontros com novas experiências, e portanto não há maior alegria do que ter uma infinita mudança de horizonte, do que cada dia ter um diferente e novo
sol."
Christopher McCandless
Acabei de ler o livro de Jon Krakauer, alpinista, carpinteiro nas horas vagas (para sustentar sua fome de montanha) e escritor. Vi por acaso o filme Na Natureza Selvagem uns meses atrás com minha irmã. O melhor filme que rola. Um filme que faz você repensar muitas coisas de nossa  sociedade moderna, as construções sociais, a "evolução" humana  e me faz relembrar de devaneios e sonhos que sempre tive e tomei por loucura - como ir do Brasil ao Canadá por terra - quem sabe rola? hehehe. O livro é melhor ainda, não sei se ler antes do filme teria sido melhor, mas acredito que não. O filme toma uma crescente, desde da formatura de Christopher Mccandless até sua jornada de 2 anos pelo Oeste Americano, inclusive chegando ao México, até sua grande aventura alasquiana. Foi dirigido por Sean Penn e a trilha sonoro é toda de Eddie Vedder, que aliás é muuito boa.
Krakauer escrevia para a famosa revista Outsider que cobre essencialmente acontecimento de montanhismo e outros esportes de natureza. Quando o corpo de Alexander Supertramp, nome pelo qual Chris ficou conhecido em suas andanças, foi encontrado no ônibus 142 muito se buscou sobre sua verdadeira identidade e história.

"Por dois anos ele caminha pela Terra. Sem telefone, sem piscina, sem animais de estimação, sem cigarros. Liberdade suprema. Um extremista. Um viajante estético cuja casa é a estrada. Escapou de Atlanta. Embora não mais deverá voltar, porque 'o oeste é o melhor.' E agora após dois anos de divagação vem a final e maior aventura. A batalha climática para matar o falso ser dentro de mim e vitoriosamente concluir a peregrinação espiritual. Dez dias e noites de carona o trazem para o Grande Norte Branco. Para não mais ser envenenado pelas moscas da civilização, e caminha sozinho sobre a terra para se tornar perdido na natureza selvagem." Alexander SuperTramp - Maio 1992
 
ônibus 142, Fairbanks - Alasca
 
Auto-retrato no 142

Já o livro partiu basicamente do artigo escrito por Jon para a revista sobre o que havia descoberto em conjunto com autoridades americanas. Gostei muito, porque depois de rever o filme várias vezes queria entender mais sobre a história, sobre as pessoas que Chris encontrou. O livro saciou minha sede, já que traz inúmeras histórias, não só sobre o passado de Chris, mas também relatos mais completos, a jornada na busca das peças do quebra-cabeça de suas andanças, além do próprio alvoroço que sua morte por inanição causou.
 
Alce que abatera
Dia 43: ALCE! 
Dia 48: Já aparecem vermes. Defumação parece ineficaz. Eu não sei, parece um desastre. Gostaria que nunca tivesse atirado no alce. Uma das maiores tragédias da minha vida!
Dia 69: Choveu muito, rio parece impossível. Sozinho, assustado.
Dia 74: Alimento terminando. Rápido.
Dia 78: Errei um lobo. Comi sementes de batata e frutinhas.
Dia 94: Pica-pau. Névoa. Estremamente fraco. Falta de semenste de batata.
Dificuldade de ficar em pé. Morrendo de fome. Grande perigo.
Dia 100: A morte chega como grande ameaça, muito fraco para sair, estou literamente preso na natureza - sem jogo.
Dia 104: Errei urso.
105: Cinco esquilos. Caribou.
Escritos de seu diário pessoal.

Cópia do recado encontrado na porta do ônibus

 
Sua última foto, desnutrido e segurando sua mensagem de despedida, citada abaixo

 
 Placa memorial instalada no ônibus 142 por sua família

Na verdade, gostei muito do estilo literário de Krakauer, alpinista que já havia ouvido falar... em alguns capítulos faz paralelo com outras pessoas que decidiram renunciar a sociedade e viver na estrada, da natureza. Tem um rapaz especificamente que me inspirou muito, Everett Ruess. Nascido em 1914, foi morar em cânions antes habitados por índios norte-americanos. Desapareceu e, semelhante à história de Chris, inúmeras foram as tentativas de descobrir seu paradeiro e sua história, mas dessa vez com menos sucesso já que seu corpo nunca foi encontrado. Um cara escreveu um livro sobre ele, quero muito ler, Everett Ruess: A vagabond for Beauty. Alguns acham que foi assassinado, outros que caiu nas profundezas de um cânions próximo ao seu acampamento, outros que morreu afogado. Há quem acredite que ainda esteja vivo e casado com um novo nome, rindo de todos nós.

"Em relação a quando visitarei a civilização, acho que não será em breve. Ainda não me cansei da natureza; pelo contrário, deleito-me cada vez mais com a sua beleza e com a vida errante que levo. Prefiro a sela ao carro e o céu salpicado de estrelas a um teto, prefiro a trilha obscura e difícil, levando ao desconhecido, a qualquer auto-estrada e a paz profunda do deserto ao descontentamento gerado pelas cidades. Censuras-me por ficar aqui, no lugar onde sei que pertenço e onde me sinto uno com o mundo à minha volta?

É verdade que sinto falta de companhia inteligente, mas há tão poucos com quem possa compartilhar as coisas que significam tanto para mim que aprendi a me conter. É-me suficiente estar cercado de beleza.

Mesmo com base na tua breve descrição, sei que não conseguiria suportar a rotina e o tédio da vida que és forçado a levar. Acho que nunca conseguirei fixar residência. Agora que conheço as profundezas da vida preferiria qualquer coisa a um anticlímax.
Digam que passei fome, que andei perdido, estoirado,
que fiquei cego e queimado pelo sol do deserto,
que andei com os pés doridos, cheio de sede,
com doenças estranhas, sozinho, molhado e cheio de frio,
mas que vivi o meu sonho!"
Última carta de Everett Ruess, ao seu irmão Waldo.
 
Everett Ruess 

"Fui para os bosques porque desejava deliberadamente viver, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se poderia aprender o que tem para ensinar, e não, quando vier a morrer, descobrir não ter vivido. Eu queria viver profundamente e sugar todo tutano da vida..."
Trecho de Walden, livro de Henry David Thoureau, encontrado com o corpo de Supertramp.

2 comentários:

  1. Gostei do seu texto. Esse filme é muito doido mesmo. Ainda não li o livro, mas Jack London, outra inspiração de McCandless, já dá uma noção da fonte que alimenta essa "loucura" do Supertramp.

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  2. Comecei o livro só que nunca terminei, adoro essa vida louca do Chris.

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